quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ONDE FICA TUA CIDADE-SONHO?



“Onde fica tua cidade-sonho?”
Estava lá marcado em muro
Penso, reflito e tristonho juro
Não saber seu endereço oculto

E ao perceber um vagaroso vulto
Do vento norte em minha espinha
Viro e vejo à volta minha
Todo amor de que preciso

Serei breve e conciso
Nessa leve explicação
Minha nova resposta padrão
À pergunta lá no alto

Minha cidade-sonho surda aos gritos do asfalto
Sem doença-fome-morte, dor-miséria ou algo assim
Não sei bem se serve a todos, mas perfeita para mim
Dá a mim o necessário pra que eu fique satisfeito

A minha cidade-sonho, sem polícia e sem prefeito
Tem um jeito interessante de mover a engrenagem
Sem toda essa roubalheira, sem toda essa sacanagem
Com amor e amizade sendo o óleo e o motor

E eu posso dizer isso, nesse assunto sou doutor
Já vi tanta malandragem sendo feita por aí
Que de lá pra cá no caminho até aqui
Não parei um só minuto de pensar no meu país

Será que eu tenho ainda uma raíz?
A quem devo jurar minha lealdade?
A uma bandeira que não traz felicidade
Ou à causa humana, cega a cores e crendices?

Meu país que me renega e não tolera meninices
Não contem minha cidade, sonho meu e de milhares
Minha cidade onipresente está em todos os lugares
Em qualquer tempo-espaço, escondida de olhos maus

Minha cidade é o próprio caos
Minha cidade é solução
É ainda pois senão evolução da evolução
Da evolução de ser cidade

Como ser em meio ao ódio esfera de felicidade?
Gratidão, pertencimento, pura bondade mesmo
A torto e a direito fazendo apenas bem a esmo
Dando a outra face ao tapa de um governo trapalhão

Foda-se. Deixem que eu vá na contramão
Sozinho na multidão é que eu não estou
E se um dedo na ferida é o que sou
Doa a quem doer eu irei continuar

Essa minha cidade-sonho sempre fora de lugar
Pode ser também a sua residência permanente
Mas devo lhe avisar somente antes que tente
Que pra fazer cidade-sonho é preciso antes sonhar

E no desenho desse lar
Não esqueça de instalar uma bela campainha
E uma placa com uma frase bonitinha
Pra quem for te visitar morrer de rir

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Delícia #5

Toda hora
O amor
Floresce

Cresce

Expande até não caber mais
Em si

Então vem os apelidos
Gracinha, delícia, benzinho, gostosa

Depois em diferentes idiomas
O carinho se manifesta
Honey, babe, mon amour

E por último os eufemismos
Pra não dar bandeira
Eu te adoro
Gosto de passar o tempo com você
Você me faz tão bem

Todos sinônimos
De um eu te amo
Reprimido

Juras de amor ao pé do ouvido

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Delícia #4

Bon Appétit, mon amour
Ligo apenas o abajur
Crio um clima
Deixo tudo em cima pra você
Ce soir, o objetivo é o seu prazer
Preparei quitutes para o seu frisson
Serei seu garçom, seu maitre
E tête à tête lhe entregarei o menu
Com tudo que preparei pra ti
Apenas o crème de la crème
Cocq au vin pour le dîner
Mon Dieu, como ela gosta de comer
E acredite se quiser
Trois petit mor pour le dessert
Essa mulher, fruit de ma passion
Educada em Syon, Sacré-Coeur, sorbonne
Espero que um dia se apaixone
Por esse chef de meia tigela
Que na panela pôs todo amor e carinho
Açafrão, curcuma, pimenta e cuminho 
Campo de batalha
De romance matinal
Cama de casal

Delícia #3

Coito menstrual
Pobre cama de casal
Mais lençóis manchados

Ainda cansados
Vibram corpos contorcidos
Corações unidos

Seu sexo selvagem
Foda em plena quarta-feira
Que bela paisagem

Toda essa sujeira
Nossa comemoração
Mês sem gestação 

sábado, 25 de outubro de 2014

Day after

O coração da menina
Criou uma ilusão vespertina
Ignorando a visão da retina

Inventou uma paixão repentina
Amou com tesão na esquina
Acordou com solidão matutina

Delícia #2

Imagine, três gaivotas
Em pulsos diferentes
Duas almas transparentes
Se encontrando em linhas tortas

Par de asas, infinito
Marcas em frente e verso
Dois corações: prosa e verso
Misturando riso e grito

Quatro tatuagens à mostra
Dois corpos nus
Um beijo ardente

Encontro que se encosta
Converge em luz
In(can)de(s)cente

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Delícia #1

"Resistindo na boca da noite um gosto de sol"
Que venha a lua
Misteriosa e nua
Invariavelmente tua
Enquanto a gente sua
Até o sol raiar

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Vamos sair hoje?

Uma angústia esse tal de tempo. A moça do rosto embaçado, do sorriso volátil, corpo etéreo. Tão pueril lembrança, quase se esvai. O jazz na vitrola ativa a memória do amante sequelado. Até que aquela música toca, daquela dança, daquele dia em que fomos felizes até mais tarde. Como num sonho, tudo se clarifica, ganha forma e real se parece. Tento tocar sua imaginada face mas ela explode na minha cara como bolha de sabão. É ela respondendo por whatsapp o que há duas horas eu havia perguntado: "claro que sim :)))"

quarta-feira, 11 de junho de 2014