segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Brainstorm

Qual o seu plano piloto
Para com a amiga do outro
Quando pretende agir
Permitir-se-a sentir
Desobstruir-se do abuso
De ser descascado
Com olhos piscantes
De prisma e de mel
Aprume-se antes
É importante
E você bem sabe
Chegado o momento, rapaz
Não amarele
Não apele
Não sequele
Aja de acordo
Com decoro
Condecore
Decore
Pra na hora não errar
Prepare-se pra improvisar
Se em cima do lance falhar
Aja sempre naturalmente
Tudo sempre dá errado
Mas tá sempre tudo certo
Depois com calma
Conte-me em detalhes
Como tudo correu bem

domingo, 15 de dezembro de 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Andava
De um lado
Pro outro
Sem
Saber
Pra onde ir
Resolveu
Meditar
Respirar
Mudou
O ar

Master puppet


Ficou espantado com a criatura
Caiu pra trás o criador
Ao cortar-lhe as amarras fez-se a cura
Ganhou vida a figura ganhou cor

Conversaram até de manhã, maravilhados
Tinham muito o que contar um ao outro
Ambos, sempre tão calados
Sempre achando o outro morto

Fez-se a luz na escuridão
Da mesa de trabalho
Libertou também a donzela

E então do teto ao chão
Tocando o assoalho
Fez nascer uma aquarela

domingo, 8 de dezembro de 2013

Sobre gatos e torradas


Te vi num precipício
E me joguei
Você não se abriu

Caímos ambos
De cara no chão
Eu e a manteiga

Você e o pão
Intactos

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Ponto de contato


De todos os microcosmos
Em nosso multiverso
Sua estrela colide
Com a minha
Supernova
Bang

Do xote que ainda farei

Fui no forró te ver
Não te vi
Quis dançar com você
Não dancei
Quis te amar
Não te amei
E tudo o que quis 
Ser com você
Quem sabe um dia
Ainda serei

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sinergia


Formiga e cigarra
Elas se agarram, se ajudam
Montam um espetáculo

Break up

Uma criança brincava com outra
De repente um furacão
As separou

Anos depois se reencontraram
Mas nelas algo havia mudado
Não mais brincaram juntas novamente

A perda da inocência e da amizade
Tudo por causa de um tornado
Na incoerência do tempo

domingo, 1 de dezembro de 2013

Eu, presente

Quem é ela de verdade
Estou louco de vontade
Pouco a pouco descobri-la

Abri-la tal presente natalino
Eu com cara de menino
Olhando curvas de brinquedo

Sou daqueles que desmonta
Olhando dentro o que é segredo
Investigando além da conta

E dando conta do seu medo
Agradeço a alguém no céu
Pela embalagem de papel

sábado, 30 de novembro de 2013

Pense, pense, pense

Pense célula independente pense
Pois pra tudo na vida 
Há um jeito diferente
Pense sua célula intransigente
Que pra cada pensamento seu
O mundo fica mais irreverente
Vertendo-se em sumo
Suave suco efervescente
De caridade e amor
Apenas pense célula
Organize suas associações
Seus desdobramentos
Essa sinergia de que tanto falam
Os que já não conseguem se calar
Pense

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

TB #10

Após quase um ano de surto, encerro essa série por dar como encerrado o assunto. Bipolaridade é normal. Se pensar demais eu acabo virando presunto. Alguns remédios à noite, algumas limitações e vida que segue. Uma coisa é certa. Os remédios não são tão potentes. As drogas tampouco. A psicanálise e a psicoterapia surtem muito mais efeitos. O bipolar enfrenta balas de canhão mas não fala com os pais. Não segue uma lógica racional (no senso comum). É um cara diferente. É carente mas não morre de saudade por ninguém. Na edição de número dez já esqueceu porque começou a escrever. Incômodos que perderam importância. Quem quiser saber mais que me pergunte. Como disse no começo, assunto encerrado.

TB #9

Acordava deprimido todos os dias. Teoricamente, isso é normal. Até que em determinado momento do dia, todas as cores do mundo brotavam de sua palheta enfeitando a tarde. Para pra pensar, de tudo o que acontece, o que está errado. São tantas variáveis. Pra ele, na verdade, apenas uma.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

TB#8

E o surto? O que fazer com o tal do surto. Surdo. O pior surto é aquele que ignora o próprio surto. O que crê e resolve que não ver é muito melhor do que enxergar. Eu, por minha vez, já fiquei amigo do surto. Andamos de mãos dadas, praticamos a inocência, a novidade recém inventamos a todo momento. Os planos mirabolantes que vão ser o maior sucesso, mas apenas no dia de são nunca.

Minha mãe sempre dizia: cuidado com as suas amizades, meu filho. Você um dia ainda pifa. Mas mãe nunca sabe das coisas. Sempre dava certo. Sempre tava tudo bem. De tanto eu andar com gente doida, começou a achar que eu tava ficando maluco. Eu? Doida é ela. Aqui só tem gente fina. A nata do mundo ao meu redor. Só tem surtado, ok. Mas nesses tempos, quem não está? Estar no chão, estar no ar, estar no centro que há aqui dentro... tudo isso parece ser normal. E parece que estar surtado também é normal.

#SerDiferenteÉNormal

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

SOS Guaratiba pede paz aos visitantes

Guaratiba em chamas chora
Os ônibus queimados na aurora
A multidão manifestante
E a paz resultante dos tempos de outrora
Em cada instante violento
Existe dentro de mim um ser
Também violento
Que por vezes se recolhe
E que de tanto se encolher
Acaba explodindo combalido
Em supernova radiante
Noutro instante tudo acalma novamente


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

TB#7

Bom dia, amigo. Tudo bem? Você sabe que eu te adoro. Eu sei que você gosta de mim também. Mas me dá uma luz. Mostra a direção que eu vou. Eu corro, pego um ônibus... só dizer pra onde ir que eu arrumo as coisas e me mando pra lá.

A gente sempre conversa, mas só eu que falo. É chato isso. Eu sei que você tem um plano pra mim, mas eu não entendo qual é. Queria muito saber. Me ajuda, vai.

Tá vendo! É isso que sempre acontece. Eu falo, falo, falo e você finge que não ouve. Não diz nada. Depois eu faço besteira e você não sabe porquê. Quantas vezes eu perguntei e você não respondeu. Mas será que alguma vez eu deixei, fico me perguntando.

Acho que vou fazer uma rápida meditação. Vamos ver se no silêncio eu consigo te escutar melhor. Fico louco de não saber os seus planos. Deixa-me ajudar, vai. Eu prometo que não irei te decepcionar. Mas se não quiser, eu vou entender. Sei como é. Já fiz isso que você está fazendo. Muitas vezes as pessoas não sabem como precisam ser ajudadas. E a gente quer ajudar e sabe que pode ajudar, mas muitas vezes não é da forma que a pessoa quer. Difícil essa situação.

Amem. Jai Gurudev. Oxalá. Às ordens e que dê tudo certo.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Correria

Raffael Massena

Chega uma hora que cansa
O tanto que a gente anda
Sem sair do lugar

Aí a gente senta
Toma um ar
E a vida espera

Então ganha mais velocidade
O mundo sentado
É bem menos agitado

Dá até pra andar de novo

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Coragem

Raffael Massena


Vi saindo
Correndo apressada
De dentro do peito
A coragem do rapaz

De passo ligeiro e fugaz
Olhar satisfeito
Alma açoitada
O Rapaz virando menino

Alguns minutos ali parado
Chorando de soluçar
Até cansar e ser
Apenas ser, divino

Fruta madura de consumo matutino 
Sorrindo aliviado o rápido crescer
Entendimento da missão de amar
Não apenas o encomendado

Mas o que a vida lhe entrega
A entrega e a surpresa
A beleza da espera
Na esfera da incerteza

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Nossas noites


TB #6

É incrível como as coisas são, né? A gente mal começa a escrever e já esqueceu a coisa toda que iria dizer. Será que é só comigo que essa coisa acontece? De repente já aconteceu contigo e você esqueceu. 

Mas de que formas bizarras se transformam as ideias. Você esquece o que pensou, depois lembra de outra coisa que havia esquecido anteriormente. Aí você resolve se lembrar do que ia dizer. Mas por ter lembrado daquela coisa que você também havia esquecido, você acaba tendo uma percepção totalmente diferente da coisa toda. Sua ideia inicial já se transformou em várias outras pequenas ideias. 

Aí vem aquela música na cabeça e você se transporta pra outra dimensão. É o auge da onda. A crista do cume. Cai uma chuva de pingos lisérgicos por trás do céu acinzentado. O cheiro muda com a dama da minha noite. Vem correndo com os pingos em slow motion. Me abraça, me beija, me roça, cheia de mimimi. Ronrona ao meu ouvido o desejo de se deitar. Quer ficar cansada, muito cansada e apagar. 

Dá pra sentir o cheiro. O do início, o do fim, o do meio. Como dizem os budistas: sempre o caminho do meio. O solo de piano, entra a guitarra, tudo fica muito sombrio. Resolvo pular essa música. A outra é mais animada. Quando menos se espera, o texto fica pronto. Com calma, com cama e com o cheiro dela ainda no ar.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Resignação do ser sonhador

Você já me conhece e nem sabe
Enxerga além do que lhe foi apresentado
Não tece um só comentário
Muito melhor do que eu me conheço
Enxerga a fundo tudo que há no fundo
Só lamenta estar no raso
Mas tudo que faço é te puxar pra areia
Minha sereia que é de todos menos minha
Enfim, nadinha tenho para provar
Somente o desejo de te provar
E mais nada

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Yin-yang

Meu mundo é 8 e 800 
Tudo ao mesmo tempo
Choro de tanto rir
Engasgo e rio
De tanto chorar
Entre o riso e o lamento
Fico confuso
Sem saber pra onde olhar
Olho pra dentro
Dá vontade de rir
Depois de chorar
Então eu sento e me analiso
Discuto, bato boca comigo mesmo
Dou gargalhadas e suspiros
Se minha vida fosse filme
Eu seria ao mesmo tempo
Mocinho e vilão
Passando a carteira
Com a faca na mão

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

Contra a corrente

Todos contentes
Correndo sem dentes
Cegamente crentes

Um para, se agacha
Amarra o cadarço
E quebra a corrente

É afastado, exonerado
E vê de fora
Um círculo ovalado
Quase um quadrado

Mentiroso
Tá de fora
Sabe o quê?
Volta pra roda

Volta e ri
Também sem dente
Dessa vez descrente

Anti-horário, apartidário
Inverte a corrente
Muda a engrenagem
Pra sempre

sábado, 2 de novembro de 2013

Down the rabbit hole



Ele me encara
Meu único amigo
O destino
Com capa de mágico
Tirando pílulas da cartola
E pombas brancas dos bolsos
Vê que um filho teu
Não foge, luta
Com cara de besta 
E sangue nos olhos


Sem violência
Sem vandalismo
Ignora os padrões
Faz seu próprio caminho
Caminha
Descansa um pouco
Caminha mais
Dorme na caminha
Acorda na caminha
Tudo se encaminha


Indisposto a caminhar
Para como pedra
No meio do caminho
Atrapalhando o tráfego
E o caminho
Em cada pílula 
Um trajeto diferente
Na língua bifurcada
Brinca com duas metades
De dois remédios diferentes


quinta-feira, 31 de outubro de 2013

TB #5

Como vai a sua empresa, essa espelunca que você chama de eu? Mostre-me o balancete, como estão as ações? Quero acesso irrestritos aos livros. Verei tudo, tintim por tintim. 


Da última vez que abri seus jornais, fiquei horrorizada, tamanha era a falta de gestão. Praticamente todos os setores mais importantes estão em baixa. A única coisa que não caiu foi a sua competência de rir da própria desgraça.



O orçamento, abaixo do esperado, como sempre. A saúde da empresa vai de mal a pior. A visão dos acionistas, oscilante. O mercado está um caos. O capital de risco, cada vez mais ambicioso... Pelo menos a poupança está crescendo. E parece que a aquisição dessa marca de café vai dar bons frutos.



Dia desses perguntei a um funcionário do baixo escalão como era trabalhar na empresa. Ele disse que era um lugar divertido, mas que não fazia ideia do futuro da empresa. Engraçado. Fiz a mesma pergunta para os diretores e a resposta não foi tão diferente. 



Mas o que me chamou mais a atenção foi o aparato na entrada da sede. Uma fonte de pedras com velas, incensos, uma flor e um altar. As mais diferentes imagens, das mais diversas religiões. A qual todos os funcionários reverenciam ao chegarem no serviço. Apesar dos fatores de risco, parece haver um consenso. Uma fé na prosperidade do negócio.



O clamor das ruas torce a favor. Os valores e a cultura organizacional estão em transição, assim como alguns membros da diretoria. Mas tudo não passa de burburinho de elevador. Oficialmente, nada ainda foi declarado.


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Chuvas e trovoadas

Como um chamado que vem de dentro
No eterno instante de encontro
Do tornado que vem de fora

Mary Whois

Influenciável
Maria vai com as outras
E não diz pra ninguém
Aonde vai

Uns a chamam de autista
Ela acredita, fica out
Outros de indigo
Ela não entende nada

Alguns acham normal
Essa coisa toda
Ela discorda

E se fosse somente ela mesma
Apenas Maria
Chata, comum, ordinária

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ora somos todos nós

Horas são subjetivas
Orações, o oposto
Mas ora, são ambas
Subjetivas também

Não tenho hora
Nem ouro. Tampouco oro
Sou objetivo e crio
O objeto direto ao ponto

Superlativo das galáxias
Apositivo, subliminar 
Lendo nas entrelinhas
Das orações descoordenadas

De loucura, insensatez
Subordinada a vaidade de ser 
Sujeito indeterminado
De uma oração desconjuntada


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A você sabe quem

Das vinte mil vozes
Que ecoam descoordenadas
O canto coral

A sua se nota
pelo ronronar sibilado
De rouca canção

Sotaque mineiro
Aqui é maneiro e bão
Um trem na estação

Medo de rotina

A rotina 
Te deixou
Menina

Intacta
A retina

Chata
Prática
perfumada

Com bolas
De naftalina

sábado, 26 de outubro de 2013

Status quo

Minha vida é boa
Encontrar em todo mestre
Também a pessoa

Na verdade é média
Mas tem amor, ideia e
Toda aquela festa

Dá pra ser melhor
Um quase quase qualquer 
Viola e mulher

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O momento de se calar

Hoje é o dia do falo
Não do fico de Pedro
Nem do falo de Freud
Mas do grito da voz

É o dia de voltar a me atrever
Do poder de me expressar
Não do tentar me explicar
Mas do fato de falar sem querer

Das coisas que optei por ignorar
Já cansado de ser ignorado
Hoje é o dia, eu falo
E penso em tudo que quero falar

Arrumando cada palavra em seu lugar
Para, após o rompante
Novamente me calar
Hoje, como um dia qualquer

Calo-me e me entrego à mulher
Fingindo-me ouvir o que ela quiser
Hoje talvez, não seja o melhor dia
Vai ser muita gritaria. Amanhã talvez.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Que horas são?

Faltam quarenta minutos
Menos uma hora
Do horário
De verão
Sobram
Vinte.

TB #4

Eu fiz um chimarrão pra você, gostosa. Tô tomando sozinho. Vem logo pra minha cama. E aproveita, traz cigarros. Só tenho mais dois.

Esquece essa preguiça, me lambuza de você. Inflama em brasa, me esquenta. Vem me fazer maior, me transborda em suor. Molha a minha cama e suja meus lençóis. Não me importo. 

Me dá um nó, chave de perna, montada, raspagem... passa a minha guarda, faz o que quiser comigo. Eu aguento. Vem e me excita, me exercita. Já é a terceira vez que essa música toca e você não vem com o seu playlist pra mudar meus batimentos.

Aproveita e dança comigo, o nosso pas-de-deux que só você sabe fazer. E você sabe que eu sei melhor do que ninguém. Ninguém conhece você como eu, te quer mais feliz que eu. Eu posso fazer aquele macarrão que você adora e amanhã te deixo em casa. Ou eu vou praí. Chego em vinte.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O sumo

Pra fazer um suco
Primeiramente terá
Que pegar o fruto

O que somos: todos nós

Eu sou
Estava escrito
Ao abrir o caderno
E me fez pensar

O quão insoluvelmente
Abstrato
É ser alguém
Alguma coisa de fato

Enquanto que, se capto
O instante porta-retrato
É porção maior de tempo
Que o falar que é

Eu sou na sua língua
Sai sempre atrasado
Melhor não dizer
E contentar-se em ser

Eu, malandro que sou
Não digo a que vim
Só o que ainda me ligo em dizer
É vou bem, e você, pra lá e pra cá

Vai saber quem sou
Eu que não sei de ninguém
Sei ainda menos sobre mim
Mas sigo contente, ainda assim

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Êxodo urbano

Como um leve e elegante elefante
Piso a terra dos meus antepassados
Que muito plantaram de produtivo

O solo porém, ficou árido
O fervilhante fertilizante deixou
Zangada areia e terra, mato e mata

Agora a terra é minha
E andarei como um elefante
que caminha deixando esterco

No esterco, sementes
Somente as fortes
Resistirão ao mal cheiro

E florescerão, mirando o sol
Subindo aos céus, descendo ao sal
Para cima, para baixo, para os lados

Crescerão em progressão geométrica
Sem métrica, sem lógica, e em pouco tempo
A terra muda gritará agradecida

domingo, 20 de outubro de 2013

TB #3

Esqueceu-se da própria idade. Encantou-se com um amor que tinha apenas a metade. Saíram ambos cantando pela cidade, gritando a plenos pulmões, como era bom amar. Com o clamar das ilusões, os sufocantes corações pulavam e corriam de alegria, para o abraço que os juntaria pra sempre. 

A comunhão da cumplicidade criaria laços fantasiados de elos. Ambos enganados quanto a forma, formavam uma aliança de alelos paralelos que os envolvia no edredom daquele abraço.

Aprenderam muito sobre si mesmos naquele abraço, um com o outro. Estavam conectados. Eram cúmplices de seus defeitos. 

Começavam a adquirir um o defeito do outro. Um amigo já me havia dito: "é no relacionamento que o homem enfrenta o seu maior momento e seus vários demônios, provando-se em prova de seu imenso valor". 

E assim ficaram, naquele abraço, pra sempre, até não haver mais separação. Até que a união do abraço se liquefizesse em mutua mutação, incorporação de corpos. Estavam hermeticamente e eternamente homogêneos.


sábado, 19 de outubro de 2013

Centenário de Vinícius

Feias, me perdoem
Beleza é fundamental
Dizia Vinícius

Landscape

A pálpebra veste 
O olho vermelho
Irriga, transborda 
Em cachoeira-gota
Desliza a lágrima 
Se joga toda
Pela maçã
Seca em vala lacrimal

A mão esconde o jogo
Esconde o fogo
Brisa no litoral
Efeito colateral
Do beijo
De boa noite

A calmaria canta
Curiosa cantarola
A cultura noturna
Da lua cheia

O medo uiva
No canal aberto
Onde pisam barcos
E passeiam velas

Pela janela
Insetos passeiam
Distraídos com a luz
Lagartixa chega
Devagar
E beija
E come
E foge
A lua 
Na água
É luz

Sobre fuga e saudade

Teto
Parede
Prateleira
Gaiola
Passarinho
Vê la fora
Chora
Do lado
De dentro
Não canta
Lamenta
Mais um dia
Será que aguenta?
Vê uma brecha
Vai embora
A dona olha
Lamenta
Chora
E também
Vai embora
Tem palpite
Deixa alpiste
Na gaiola
Vai que volta

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Coração voyeur

Ela já não me suporta mais
Diz que eu não sou bom rapaz
Diz que eu dou passos pra traz
E que eu me dei por vencido
Livro lido e esquecido
Na estante da preguiça
Como um treco que enguiça
Perdendo sua função
Que não vale o meu reparo
Que não tem mais solução
Me perdoe a autoridade
Mas você não tem idade
Pra me dar essa lição
Ela só mudou o penteado
O seu corpo tá fechado
Sua mente é só fachada
Em seu peito um cadeado
Tranca dentro de si mesma
A chave que emperra
O elogio atravessado
Nada entra nem se vê
No buraco da fechadura
Língua mole em armadura
Tanto mata como cura

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ao dia do mestre

O pouco orçamento
Pra educação do país
É muito lamento

TB #2

Encontrou-se com os amigos para uma noite de poker, cerveja e videogame. Era um sábado de tarde nublada, daqueles que ou você se enfia embaixo do edredom ou vai à luta. Típico sábado de tudo ou nada. Aqueles sábados que dizem: divirta-se, que daqui a pouco é domingo.

Naquele momento, não havia programa melhor que aquele. E tinha certeza que iria se divertir. Foi com tudo. Deu seus 100%. Como era de costume, foi arriscar sua sorte. All in. High stakes under the gun.

Perdeu duas vezes no poker, as duas com par de ases. Muito azar pra uma noite só. Depois perdeu no videogame e logo desistiu. Não era o seu jogo. Perdeu pra cerveja e depois pro vinho. Não era muito de beber. Tinha o estômago fraco. No entanto ganhou a noite. Estava com seus amigos, divertiu-se e não tinha mais dinheiro algum.

Estava com a moral em alta e o bolso vazio. Foi pra casa, tomou um banho demorado, arrumou-se e partiu pra noitada. E que noite florida. Casa cheia, mulheres, amigos... Mirou logo na mais bonita, a mais cobiçada. Tinha certeza que iria levar um fora. Dito e feito. Mas depois disso, não se intimidou com nenhuma outra. Era Deus. Podia tudo. Era um demônio e queria tudo. Ô sorte. Foi com tudo então. Dormiu numa casa, acordou em outra, dormiu mais um pouco e ligou a tv. Fantástico.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Soprei no seu ouvido

Poesia é vento
Que venta no pé do ouvido
E arrasta a caneta

TB #1

Ele sentia-se como um rato de laboratório. Tinha a certeza de que estava sendo estudado, observado. Então não teve outra saída a não ser encarnar o personagem que a tanto tempo havia omitido. Ele mesmo.

Já nem se lembrava de como era. Não sabia quais eram seus medos, seus sonhos, sua missão. Sabia apenas que sua zona de conforto era muito confortável. Queria ganhar o mundo e queria que o mundo inteiro ganhasse por ele. Esquecido que era, fazia tanta coisa ao mesmo tempo que à noite nem se lembrava do que havia feito. Já tinha amado tantas coisas e de tantas formas diferentes que não se lembrou do que realmente gostava. Não sabia o que era realmente importante em sua vida. 

Como não tinha sonhos, saía às ruas perguntando pra pessoas aleatórias quais eram os seus. Se tivesse perguntado a seus pais, talvez tivesse uma vaga ideia. Mas ao invés disso recorreu aos amigos. E seus melhores amigos não diziam nada. Ele também não perguntava. Não por vergonha, mas porque entre eles não havia muito o que conversar. O silêncio dizia tudo. Maldito silêncio. Ou bendito. Nunca se sabe.

O problema de não saber os próprios sonhos, é que junto a isso não sabia o que era necessário para atingi-los. Dizem que dinheiro compra sonhos. E como não tinha sonhos, não precisava ter dinheiro também. O sonho dos outros era muito caro. O dele, não tinha preço. Então continuou, no mesmo lugar, com o mesmo sonho, que somente ele sabia, mas que não fazia ideia.

Noite feliz

Sentou 
Admirou seu rebanho
Teve orgulho do que havia 
Conquistado com suor 

Numa mão 
O cajado de patrão
Na outra
Um presente

Diferente do sempre
Ambos doutor-paciente
Auscultaram-se ao luar

Noite fria, mente quente
Ouvia-se o ranger dos dentes
E o presente, ali parado

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ariel

E então, de repente, deparo-me com a mais linda donzela de minha vil ilusão errante. Vestia flamejante cabelo rubro, olhos verde-água e um magnífico, bronzeado celeste corpo, coberto apenas por sutiã e cauda. Olhar e pausa. E em cada canto que olhava, nem uma apenas testemunha acompanhava seus gestos chamando ninguém além de mim. Era inacreditável. Caso não fosse sonho, juraria, tão medonho, que fosse realidade.

Nadamos e brincamos juntos. Sozinhos. Eu, ela e os golfinhos. E enquanto a tarde caía e o sol se punha no horizonte, aos montes se amontoavam milhões de micro-peixes a perturbar nosso momento. Sento-me e lhe sento em meu colo. Colo meus braços em sua cintura e pinto a costura de suas orelhas com água e cuspe.

Mordo as esquinas de seu pescoço, te aperto os seios, te excito ao pé do ouvido, como suspiro, seguido de beijo-calafrio. Abro lentamente o zíper de suas nadadeiras, mas suas mãos hesitantes indicam ainda ser cedo a derradeira – ou talvez que não fosse ali o lugar ideal. Pega meu braço e sai em disparada. Diz querer me mostrar os lugares mais belos da costa mineira, a começar pela praia do sonhador.

Em seu sotaque paulista, quase todas as palavras viravam uma linda melodia. Mas “sonhador” não era uma delas. Sonhadorrrrr. Solto uma risada tão alta que fez inflar até o baiacu que ali passava. Ela sacaneia de volta, zoando o meu carioquês cheio de xis. E assim, zombeteiramente, nadamos até nosso primeiro destino.

Até que era bonita a tal praia do sonhadorrrr, mas pra quem costuma curtir a Restinga da Marambaia e Grumari não tinha nada de mais. Ficamos um pouco, andamos de banana boat e fomos embora. Já estávamos com fome quando ela sugeriu o Siri Cascudo.

Sanduíche com o Bob Esponja.

Topei na hora. Nunca pensei que fosse conhecer tal bichinho amarelo de voz esganiçada e calças quadradas. Não via a hora – literalmente. Meu relógio não aguentara a pressão e parara de funcionar desde antes da praia, lá pelas 16h20. Enfim, chegamos e fomos muito bem recebidos pelo Bob. Que aprazível sujeito apresentou a ponta e disse que havia ganhado um trailer no Lata Velha e que estava economizando grana para fazer sua própria lanchonete. Disse-lhe que deveria chamar Bob’s, mas ele achou o nome idiota. Perguntei sobre o Patrick e ele disse estar numa clínica de reabilitação, mas não quis entrar em detalhes. Deve ter sido cocaína. Quase sempre é.

O encontro foi bacana, mas o sanduíche deixou a desejar. A carne era muito salgada e o pão ensopado. O que salvou foi a sobremesa: sorvete de campari com calda de caramelo. Fiquei bêbado e com vontade de trepar. Perguntei a ela se havia um lugar. E então conheci o matadouro.

Uma caverna subaquática a uns 900 metros dali. A chave da porta secreta era uma pedra no meio do caminho que quase me fez tropeçar. Mantive-me ereto e me pus à vontade em seu aposento. Não havia muita coisa além dos badulaques de qualquer sereia: espelho, pente, gaita, blush... e uma cama king size com direito a espelho no teto e pole dance. Aparentemente a minha sereia era safadinha. Transamos muito, durante muitas horas, até esgotarmos nossas forças.

Após um breve cochilo, ela me acorda com o sorriso cheio e o estômago vazio. Diz que quer comer um linguado. Eu acho graça e falo que comerei uma lagosta. Rimos e rumamos ao restaurante, onde, pra minha surpresa, ela realmente pede o peixe. Como a lagosta era muito cara, acabo pedindo apenas dois Temakis. Era um restaurante delicioso e ficamos conversando por horas sobre política, filosofia, teologia. Biologia. Muita química... saímos apenas por causa da fumaça. É incrível como as pessoas fumam e falam fumando no fundo do mar.

Que encontro maravilhoso, que teimosia em persistir maravilhoso por tanto tempo. Começava a me preocupar, achando que nunca mais iria embora. E se fosse? Como faria para encontrá-la depois? Não existe facebook no fundo do mar. Era a pessoa mais incrível que eu jamais conhecera. Dava vontade de abandonar a vida terrestre e morar pra sempre em sua saleta, com seus pente, espelho, gaita e blush. Completamente absorto por toda aquela fantasia, decido ficar mais um dia no mar. Deixaria para depois a decisão sobre o meu futuro. Deixaria por estar o estado que fosse.

Na manhã seguinte uma carta em seu criado mudo, embaixo da gaita, chama a atenção. Ela tem o meu nome impresso em tinta vermelha e, no verso do envelope, uma única marca: uma minhoca presa a um anzol e um pedaço de linha. Que seria isso, eu indago. E, meio sem jeito, sem querer acordar minha futura ex-namorada, adormecida em meu colo, Alcanço a correspondência.

O remetente chamava-se Tritão e aparentemente era meu sogro. Solicitava um encontro para o desjejum. Queria acertar os detalhes do casamento. Não sei aonde eu estava com as cabeças nessa hora, mas lembro ter ficado feliz com a carta. Decisões importantes nunca foram meu forte e o fato de uma decisão dessa magnitude ter sido tomada por mim me deixava muito feliz e aliviado. Iria me casar com uma sereia. Mas antes precisaria conhecer seus pais e eu precisava de um banho. Sentia meu corpo salgado e melado de suor. O mar com certeza fazia muito mal à minha pele.

Quando a minha submersa princesa acorda, fica sem graça e diz que não existem chuveiros embaixo d’água. Mas que sua falecida avó tinha um navio e que eu poderia tomar banho lá. Era um cargueiro europeu, com bandeira espanhola, cheio de contêineres contendo cantis e carabinas para as tropas brasileiras. O comandante era um sujeito engraçado, chamado Saulo, que estava sempre chapado pois consumia boa parte do seu contrabando de drogas que levava do Panamá para o Pará.

Tomo um banho que ela toma comigo, transamos novamente e morgamos na cabine. Após o descanso, colocamos uma roupa e saímos. Como estava sem camisas ou calças limpas, acabo vestindo as vestes de seu último vilão, namoro passageiro daqueles que deixam corpos no chão.

Na saída da cabine topamos com ninguém mais, ninguém menos, que Pirlo e Ronaldo ‘fenômeno’. Estavam conversando sobre opções de ações futuras. Quem iria imaginar. Acabam parando para falar conosco. Aparentemente Pirlo e Ariel são velhos amigos.

Devoramos sanduíches e então somos surpreendidos por uma conhecida em comum que fica muito feliz ao nos ver juntos, ali no deck. Fumava um beque apreciando a vista e acompanhando o solene cair do sol costurado por um zíper de gaivotas voadoras que em V planavam. Ofereceu-nos, graças a Jah e, agradecidos, entorpecemo-nos.

Despedimo-nos e mergulhamos. Iria conhecer o sogro. Não queria, imaginava que não agradaria, ainda mais de olhos vermelhos. Mas a salina solução do fundo do mar hidratou minhas dilatadas pupilas cor de fogo. Nadamos, nadamos, nadamos, até que chegamos.

Quase não acreditei quando ao longe avistei uma enorme festa para a minha recepção. Todos reunidos saudando a nossa chegada, empolgados com o casório. Decoração top, guloseimas, dançarinas de hula bailando em uníssono... muitas velas e cigarros acesos. É impressionante como as pessoas fumam debaixo d’água. Finalmente sou apresentado ao sogrão, destemido rei dos mares.

Não se parecia nem um pouco com a personificação de Walt Disney. Muito pelo contrário. Era careca, gordo, baixinho... mais parecia uma mistura de Buda com Mestre dos Magos. Muito simpático, me apresentou seus amigos e familiares, entregou-me uma bacia de coco com uma bebida esquisita dentro, e ordenou que as bailarinas encenassem um número que haviam feito especialmente para a minha visita. Ofereceu-me um baseado também. Aparentemente todo mundo fuma nos meus sonhos. Mas dessa vez não aceitei. Não queria que ele soubesse quem eu realmente era. Meu personagem bom moço era mais interessante e apropriado para o momento.


Rimos, brincamos, curtimos e ao final da festa rumamos de volta para nossa cabine no navio da vovó. Estávamos tão cheios de tesão que transamos até não sabermos mais que dia era. O hoje era qualquer dia, o ontem não existia e o amanhã pouco importava. E como roncava a minha sereia. Quem vê não diz, mas eu vi, ouvi e mal acreditei, mas até que era bonito o seu ronronar. Esses encantos de sereia, que nem canto de baleia, tudo que era som era lindo também. Adormeci e então acordei. Molhado.

domingo, 13 de outubro de 2013

Inverso

Não sambe
Não sonhe
Não planeje
Não se finja de bobo
Não sinta
Não seja sincero
Não imagine
Decepcione-se
Você não é importante
Você é importante?
Minta, seja diferente e independente
Alguém é independente nessa vida?
E talvez o menos importante.
Você é feliz?

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Cinemática

Raffael Massena

Eu sonho
Até mesmo
Em sonho
Como uma
Foto dentro
De uma
Outra foto
Quantas
fotos cabem
Dentro de 
Uma foto
Qual o limite
Do sonho
O homem
Já foi
A lua
O céu
É pouco
O mar
Infinito
Apenas
Quando
Tem
Porto


*"Cinemática (do grego κινημα, movimento) é o ramo da física 
que se ocupa da descrição dos movimentos dos corpos, 
sem se preocupar com a análise de suas causas"
-wikipedia

Diago.now

Raffael Massena

Agora é um ponto na diagonal
É quase uma vírgula de tão escorregadio

Agora nunca interroga
Pois não precisa de respostas

Agora também não exclama
Para tanto não há motivos pra se exaltar
Nada além do agora

Não é reticencias
Posto que não se apega

Tampouco perde tempo 
Pendendo entre dois pontos

Agora é simplesmente agora
Mas só enquanto a outra sentença não começa
Em cada oração, um agora passado